Foto: Divulgação - Arquivo ZMP
Uma instituição valiosa que já projetou inúmeros atletas campeões nos cenários nacional e internacional e continua viva, apesar das mudanças ocorridas na comunidade nas quase oito décadas de sua existência, tem uma história interessante e pouco conhecida: originariamente foi o albergue noturno municipal.
Com a conhecida sigla AAF, essa entidade esportiva tem uma longa história marcada pelo pioneirismo dos atletas da família Soares Boaventura e sequenciada pelo professor Renato Pereira, o "Escorpião de Ibirapuera", que há quase seis décadas se dedica à formação de atletas e à manutenção da mais antiga instituição do gênero em Feira de Santana e uma das mais longevas da Bahia, com a virtude de resultados consagradores.
A Academia Atlética Feirense surgiu em 1948, no governo do prefeito Aguinaldo Soares Boaventura (1948/1951), que se dedicava à cultura física, e nisso foi seguido por três dos seus quatro filhos e outros familiares. Todavia, no local onde até hoje a instituição funciona, foi construído o Albergue Noturno de Feira de Santana, destinado a abrigar pessoas oriundas de outras cidades e regiões que, ao aqui chegarem, não tinham onde dormir ou descansar. Esse fluxo era muito grande na época. O abrigo foi construído mediante esforços e contribuição financeira de um grupo de cidadãos zelosos pelo desenvolvimento da cidade princesa com plenitude social. Desse elenco de abnegados feirenses fizeram parte, dentre outros: Eduardo Fróes da Mota, João Marinho Falcão, Arnold Ferreira da Silva e Bernardino da Silva Bahia. O prédio construído para sediar o abrigo, na Rua Intendente Rui, era bem maior, incluindo duas lojas vizinhas hoje existentes.
Com pouco tempo de implantado, o abrigo foi transferido para a Rua Professor Geminiano Costa, onde está localizada a sede da Liga Feirense de Desportos. Em consequência, o prédio do abrigo foi cedido pelo prefeito Aguinaldo Soares Boaventura aos filhos praticantes de halterofilismo. Tendo à frente Asdrúbal Soares Boaventura, que foi bicampeão baiano meio-médio e campeão pan-americano, os irmãos Boaventura iniciaram um novo ciclo de ocupação do imóvel, destinando-o à atividade atlética com êxito. O levantamento de peso ou halterofilismo ganhou ares de modismo entre os jovens da época e a instituição teve grande projeção na sociedade.
Em 1962, ao chegar de São Paulo, o lutador feirense Renato Pereira, já consagrado como o Escorpião de Ibirapuera, devido às lutas travadas no Ginásio de Esportes de Ibirapuera, na capital bandeirante, passou a treinar na AAF, que já estava com as instalações em estado precário e pouco a pouco foi deteriorando a ponto do telhado desabar. A partir de 1976, com o fito de manter a tradicional entidade desportiva, Renato Pereira passou a administrar a AAF, inclusive realizando obras de manutenção sempre que necessário. Com a transformação da Academia em Associação Atlética Feirense, à atividade fundamental, que era o halterofilismo, foram incorporadas outras, como cursos de boxe e artes marciais – judô, jiu-jitsu e karatê. A partir daí, estima Renato Pereira que pelo menos 5 mil pessoas tenham passado pela instituição. Faixa preta, oitavo Dan de karatê e jiu-jitsu e sexto Dan de judô, Renato Pereira já preparou e formou centenas de atletas dessas modalidades, inclusive faixas pretas hoje radicados em outros estados e até mesmo fora do país. Assim, ele preserva os quase 80 anos de existência da instituição, cuja origem foi o Abrigo Noturno de Feira de Santana.
Por Zadir Marques Porto